A Polícia Federal investiga um braço do Primeiro Comando da Capital (PCC) voltado ao tráfico internacional de drogas e à lavagem de capitais. Uma das rotas utilizadas pela organização criminosa tinha como destino final o porto de Roterdã, na Holanda, um dos favoritos de Sérgio Roberto de Carvalho, o Major Carvalho, ex-policial militar de Mato Grosso do Sul que é conhecido como “Pablo Escobar brasileiro”.
A investigação resultou na Operação Vila do Conde, deflagrada ontem, que teve como objetivo desarticular o grupo. Mandados foram cumpridos em Mato Grosso do Sul.
Segundo informações da Polícia Federal, as investigações começaram em fevereiro de 2021, após uma ação que apreendeu 458 quilos de cocaína, no Porto de Vila do Conde, em Barcarena (PA), que estavam escondidas em meio a uma carga de quartzo e tinham como destino final o Porto de Roterdã, uma das principais portas de entrada de drogas na Europa.
“A operação policial identificou os membros da organização criminosa transnacional, bem como toda a estrutura logística montada para escoar a produção de cocaína para a Europa. Ademais, o trabalho investigativo desvendou toda a logística empresarial voltada à lavagem dos ganhos ilícitos, envolvendo empresas fictícias e investimentos em segmentos formais do mercado, como restaurantes e prestadores de serviços diversos”, informou a PF.
Na operação de ontem, a Força Integrada de Combate ao Crime Organizado (Ficco/SP) cumpriu 22 mandados de prisão preventiva e 40 mandados de busca e apreensão em São Paulo, Pará, Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso do Sul, todos expedidos pela 4ª Vara Federal de Belém contra membros do PCC, organização que domina o tráfico de drogas em São Paulo e Mato Grosso do Sul.
Um dos alvos da operação foi Alexandre Constantino Furtado, presidente da Império de Casa Verde e vice-presidente da Liga das Escolas de Samba de São Paulo. Segundo a Polícia Federal, ele é integrante do PCC. Ele já tinha sido preso em 2006 em uma operação da Polícia Civil
COMO FUNCIONA?
Uma reportagem de 2021 do jornal inglês BBC revelou como a cocaína vinda da América Latina entra no porto holândes. Segundo eles, o principal recurso para driblar a fiscalização é por meio dos chamados “coletores de drogas”, geralmente jovens que são contratados por grandes organizações criminosas para realizar este trabalho.
“Às vezes, eles não precisam levar com as próprias mãos a cocaína para fora do porto. Em vez disso, eles transferem para outro contêiner a mercadoria ilegal, com a ajuda de algum funcionário cooptado, até que as drogas sejam levadas para fora em um caminhão. Nesse tempo, os coletores vivem dentro dos contêineres, que se tornam uma espécie de quarto de hotel para eles”, explica o diário britânico na matéria.
Ainda de acordo com a BBC, os coletores ganham cerca de € 2 mil (R$ 10,5 mil na cotação atual) por cada quilo de cocaína que carregam. Portanto, caso a carga de cocaína apreendida no Porto de Vila do Conde tivesse conseguido atravessar o oceano e chegasse nas mãos previstas, os coletores teriam desembolsado € 916 mil (R$ 4,9 milhões atualmente).
Em 2014, as autoridades policiais da cidade holandesa capturaram mais de 5 toneladas de cocaína no porto. Seis anos depois, este dado cresceu exponencialmente, chegando a 41 toneladas apreendidas. Porém, conforme levantamento da Agence France-Presse (AFP), este número tem diminuído.
Ano passado, foram apreendidas 26 toneladas de cocaína, 42,86% a menos do que em 2023, quando foram capturadas 45,5 toneladas da droga.
Talvez, este seja um reflexo das prisões de Major Carvalho e seu sócio, em 2023, o que também tem diminuído o fluxo do tráfico entre a América Latina e o Velho Continente.
HOLANDA QUERIDA
Curiosamente, esta rota utilizada pela organização criminosa também foi muito usada pelo megatraficante Sérgio Roberto de Carvalho, o Major Carvalho, por tráfico internacional de drogas.
Como apontou a investigação, o ex-policial militar de Mato Grosso do Sul teria embolsado cerca de € 200 milhões (R$ 1,250 bilhão na cotação atual) com 10 carregamentos de cocaína.
Além de Carvalho, o esquema também era liderado pelo belga Flor Bressers, de 39 anos, que teria ganho até mais que o “Pablo Escobar brasileiro” neste 10 carregamentos, cerca de € 230 milhões (R$ 1,437 bilhão na cotação atual).
Segundo o The Guardian, os promotores do caso apontam que a apreensão ocorrida em 2020, em Roterdã, teria sido apenas a ponta do iceberg. A rede operada por Bressers e Major é suspeita de ter importado toneladas de cocaína entre 2019 e 2020 para a Europa.