Os levantamentos foram feitos em 2023 e 2024, período em que o território pantaneiro enfrentou sua pior seca em mais de um século de catalogação de dados, bem como teve o registro de incêndios florestais graves, que atingiram 17% do Pantanal.
Além disso, a pesquisa apontou para um menor volume de chuva na série histórica de 1986-2023 nas sub-bacias dos Rios Jauru (MT) e Taquari (MS), com 61% de redução na superfície de água no Pantanal.
A compilação das pesquisas resultou no produto chamado “O valor da restauração – como a cobertura vegetal reduz erosão e gera benefícios econômicos e resiliência hídrica nas Cabeceiras do Pantanal”, publicado pela WWF e Aegea.
“A região das Cabeceiras do Pantanal tem o uso do solo predominantemente voltado à atividade agropecuária e enfrenta diferentes desafios relacionados à segurança hídrica e mudanças climáticas, tais como a ampliação de complexos hidrelétricos, alteração do fluxo dos rios e perda ou fragmentação de habitat, decorrente de incêndios, desmatamento e conversão de terras para a agropecuária. 58% da paisagem se encontra antropizada, e as pastagens são o uso do solo mais predominantes na paisagem (42%), sendo a maioria com alto grau de degradação (67%)”, identificou os estudos.
“Entre 2012 e 2022, houve um aumento da supressão da vegetação nativa (+4%) e do cultivo de soja (+47%), e a diminuição dos corpos d’água (-26%)”, completou.
Apesar das belezas mais famosas do Pantanal estarem na planície, é na área das Cabeceiras que a saúde do fluxo das águas mais é interdependente.
As pesquisas apontaram que 80% da alimentação dos rios pantaneiros e da manutenção dos ciclos do território têm origem nessas Cabeceiras. Além disso, os materiais de sedimentação também surgem a partir dessa área mais alta.
Dentro da região chamada de Bacia do Alto Pantanal (BAP), que inclui em Mato Grosso do Sul áreas como a Serra do Amolar e partes da sub-região do Paiaguás, todas elas localizadas dentro do município de Corumbá, há áreas que integram parte das Cabeceiras.
“Desafios enfrentados na planície pantaneira são, muitas vezes, reflexos das atividades desenvolvidas na região de Cabeceiras, que impactam negativamente os pulsos de inundações, diminuem as áreas alagadas, alteram os fluxos de sedimentos e nutrientes entre o planalto e a planície, e assim, em decorrência de um ambiente mais seco, aumentam o risco de incêndios”, explicaram os pesquisadores do projeto Águas para Todos – restauração e benefícios hídricos nas Cabeceiras do Pantanal.
As áreas das Cabeceiras estão localizadas em Mato Grosso, em municípios como Poconé, Cáceres, Barão de Melgaço. Já em Mato Grosso do Sul, há Miranda, Aquidauana, São Gabriel do Oeste, parte de Bonito e Bodoquena. E entre os biomas envolvidos há tanto a Amazônia (16%) como o Cerrado (84%). São 211.740,4 km² de território a gerar algum impacto no Pantanal.
EFEITO CASCATA
Para tentar encontrar medidas que possam mitigar o comprometimento de mais de 60% da geração de recursos hídricos que vão alimentar o Pantanal e mais de uma dezena de municípios, tanto em MT como em MS, a pesquisa sobre as condições das Cabeceiras identificou necessidade de aumentar a cobertura do solo com vegetação nativa para aumentar em até 40% a infiltração da água.
Para se identificar essa realidade, houve pesquisa desenvolvida em Bonito, onde há os chamados banhados, ao mesmo tempo que há espaço sendo dividido com a produção agrícola. A soja é a principal plantação e teve como área cultivada mais de 70,4 mil hectares na safra 2022/2023.
Ao todo, quatro fazendas foram utilizadas para servir de base para levantamento de dados. Um simulador de chuva chegou a ser utilizado para ver o comportamento do solo exposto a 48 minutos de água.
Já em microbacias de Jauru (MT) e Miranda, o levantamento trabalhado em 805,1 mil hectares mostrou que, a cada R$ 1 investido em restauração do solo e uso de melhores práticas agropecuárias, deixou-se de gastar até R$ 8 com tratamento de água para as cidades de Bonito, Miranda, Aquidauana e Anastácio.
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