Mato Grosso do Sul ampliou as exportações de carne bovina no mês de setembro. Conforme os dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic), o total negociado praticamente se igualou ao montante da celulose, que lidera a pauta de exportações do Estado. A ampliação ocorre no segundo mês em que as exportações estão sob efeito do tarifaço de Donald Trump.
O bom desempenho surpreende o setor produtivo, que esperava um impacto mais forte da medida norte-americana sobre os embarques brasileiros. Em setembro, o Estado exportou US$ 201,9 milhões em carne bovina, contra US$ 203,4 milhões em celulose, diferença de apenas 0,7%, a menor registrada nos últimos cinco anos. O resultado reforça a tendência de crescimento das carnes.
Mesmo sob o peso das novas tarifas impostas pelos Estados Unidos, o setor manteve o ritmo de embarques e acumulou, entre janeiro e setembro, US$ 1,3 bilhão em vendas externas, um avanço expressivo em relação ao mesmo período de 2024.
O desempenho é sustentado pelo redirecionamento de parte da produção para outros mercados, sobretudo asiáticos e árabes, diante da perda de competitividade no mercado norte-americano.
Os números do Mdic mostram que as exportações de Mato Grosso do Sul aos Estados Unidos caíram de US$ 471,4 milhões para US$ 426,1 milhões no comparativo entre os nove primeiros meses de 2024 e 2025, reflexo direto do tarifaço.
Ainda assim, o impacto foi compensado pela ampliação das vendas para China, Indonésia, Vietnã e Emirados Árabes Unidos, que mantiveram forte demanda pela carne brasileira.
“O que podemos destacar desse estudo é a solidez do desempenho das nossas exportações, lideradas pela celulose, seguidas de perto pela soja e com uma participação importante do setor de carnes. Nossa economia está fortemente alicerçada nessas commodities”, destacou o titular da Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação (Semadesc), Jaime Verruck.
Segundo ele, a consistência dos embarques de carne bovina comprova que o Estado tem conseguido diversificar mercados e manter a competitividade mesmo diante de barreiras externas.
SUPERAVIT
De acordo com a Carta de Conjuntura do Comércio Exterior, elaborada pela Semadesc, Mato Grosso do Sul exportou US$ 8,18 bilhões entre janeiro e setembro deste ano. No mesmo período, as importações somaram US$ 1,83 bilhão, resultando em um superavit de US$ 6,34 bilhões, o que representa alta de 10,84%, em relação ao acumulado do ano passado.
O saldo comercial positivo é impulsionado principalmente pelas exportações de celulose (29,22%), soja (25,58%) e carne bovina (15,92%), que, juntas, respondem por mais de 70% das vendas externas do Estado.
Em 2024, a participação da carne era de 11,25%, o que demonstra avanço expressivo do setor no ranking exportador.
Entre os produtos que mais perderam espaço estão o açúcar e melaços, cuja fatia caiu de 8,31% para 6,57%, e o farelo de soja, que passou de 7,09% para 4,36% neste ano.
Enquanto a carne bovina avança, a soja perdeu força. As exportações do grão, que lideravam a pauta em 2024, ficaram em segundo lugar neste ano, após queda de 34,71%, com 25,58% na participação total. O resultado é explicado pelo escoamento mais lento da safra e pela volatilidade nos preços internacionais.
A celulose, por sua vez, manteve-se na liderança, com US$ 2,49 bilhões exportados até setembro, mesmo enfrentando oscilações de preço e uma leve desaceleração da demanda chinesa.
Nos frigoríficos, o cenário é de otimismo. Segundo fontes do setor ouvidas pelo Correio do Estado, o avanço das exportações reflete o aumento da capacidade produtiva, com plantas operando em ritmo elevado para atender a contratos de longo prazo com o mercado asiático.
Outro fator que contribuiu para o saldo positivo na balança foi a redução das importações de gás natural da Bolívia. Entre janeiro e setembro, o Estado importou 2,1 milhões de toneladas, totalizando US$ 606 milhões, volume 30,69% menor que o importado no mesmo período de 2024.
Com isso, o gás, que ainda lidera a pauta de importações (33,03%), teve impacto menor no saldo da balança. O recuo nas compras externas foi um dos principais responsáveis pelo aumento do superavit.
“O superavit aumentou porque tivemos uma diminuição importante na importação de gás, mas somos essencialmente um estado exportador. Esse resultado é bom e era o que a gente já esperava, pelo conjunto de indicadores favoráveis”, afirmou Verruck.
LIDERANÇA
No recorte por destino, a China continua sendo o principal parceiro comercial de Mato Grosso do Sul, com US$ 3,76 bilhões exportados entre janeiro e setembro. O país responde por 46,11% das vendas externas do Estado, ligeiramente abaixo dos 47,30% registrados no mesmo período de 2024.
Os Estados Unidos se mantêm como segundo principal destino, embora com redução no valor comprado (de US$ 471 milhões para US$ 426 milhões) e na participação, que caiu de 6,02% para 5,21%.